Muito se fala sobre como os brasileiros são, majoritariamente, pessoas despolitizadas. Afinal, “política, religião e futebol não se discutem”. Porém, é curioso atestar que embora essa ideia seja comum e repetitiva, ela revela claramente um problema endêmico no país: a falta de educação política nas escolas.
Aliás, quando se fala em política, muitas pessoas relacionam o termo diretamente a imagens e palavras de cunho negativo. Eleições e suas respectivas propagandas falaciosas, corrupção, discussões que não chegam a um consenso, intolerância.
Para reverter esse quadro, foi criado em 2004 o projeto de extensão Política na Escola, da Universidade de Brasília, o qual consiste em se utilizar da educação horizontal para construir um conhecimento conjunto nas escolas da periferia do DF sobre tal tema tão estigmatizado no país: a política. A política para além do que superficialmente se conhece; temas como representação, democracia e participação são presentes nos debates criados nas escolas. As crianças são estimuladas a pensar em política em várias ordens, em enxergá-la no seu cotidiano a fim de se verem como cidadãos que podem exercê-la. Não existe uma relação hierárquica entre os monitores do projeto e as crianças: não falamos e falamos e as crianças apenas ouvem e consentem. A educação horizontal, que desde o início norteou o andamento do projeto – e de certa forma, foi e é um fator preponderante para sua credibilidade e continuidade –, possibilita um novo lugar pedagógico. Com dinâmicas e discussões que retiram o aluno da posição de mero ouvinte e o coloca como motor do aprendizado, a ideia é, assim, impulsionar reações criativas às dinâmicas e proporcionar reflexões.
Apesar de ser criação do Instituto de Ciência Política, o projeto de extensão é aberto a todos os cursos da Universidade. Não atende à comunidade acadêmica somente no quesito de participação dos universitários. Há uma pesquisa contínua existente no projeto, na qual são coletados dados sobre os encontros quinzenais e estes estão disponíveis para o uso em artigos, teses e demais trabalhos acadêmicos que queiram discorrer sobre os temas centrais trabalhados com as crianças. Além da pesquisa, o projeto concentra outras áreas de atuação interna, tais como as coordenadorias de administração e comunicação, por exemplo.
No primeiro semestre de 2018, atuaremos na Escola 401 do Recanto das Emas. Dentre várias expectativas, a expectativa geral para os novos integrantes do projeto é ter um contato real e humano com o ambiente escolar. Serão encontros quinzenais, em grupos de três ou quatro pessoas em cada sala, com turmas do ensino fundamental, nas quais abordaremos as questões citadas anteriormente de forma dinâmica e criativa. Pretendemos contribuir positivamente na formação do pensamento crítico e trazer à tona o sentimento de participação – adormecido na maioria dos brasileiros – para essas crianças.
Afinal, se as crianças são o futuro do país, é imprescindível fazê-las pensar em política.
Ana Luíza Aguiar.